terça-feira, 30 de novembro de 2010
PRESENTE
1. (Adjetivo) que está no lugar em que se fala. 2. Que está à vista. 3. Atual. 4. Tempo verbal que exprime atualidade. 5. (Substantivo) Aquilo que se dá para lembrar um bem querer, mimo, regalo, lembrança.
Engraçado como algumas palavras condensam significados. Em português e inglês, o tempo verbal e o substantivo “presente” são um bom exemplo disso .
Diz o dicionário; Estar presente: estar (100%) no lugar em que se fala. Uma das coisas mais difíceis dessa vida.
Desprender-se das raízes do passado conservando seus frutos, mantendo-se ao mesmo tempo livre da preocupação com as flores do futuro. Plantar-se no presente, com folhas, galhos e tronco.
Aquele olhar de soslaio para o passado... guarde-o numa caixa.
Aquela ruga de preocupação com o que virá, que te faz levantar a sobrancelha esquerda...
guarde-a numa outra caixa.
Aquela dúvida em forma de pergunta: “e se...?” seguida por centenas de milhares de hipóteses... guarde tudo nessa segunda caixa.
Organize as 2 caixas e reserve.
Abra outra caixa.
Rasgue o plástico com cuidado.
Aproveite o cheiro de novidade e a textura. Comece a enchê-la. Aos pouquinhos, de sensações atuais.
Presenteie alguém importante que esteja passando por sua mente e coração nesse momento.
Depois, é so aproveitarem juntos. Aqui e agora.
Past In Present
Feist
The scarlet letter isn't black
Gotta know who's got your back
Because they're right in front of you
Because they're telling you the truth
So much present inside my present
inside my present so...so much past
Inside my present inside my past
Inside my present
http://www.youtube.com/watch?v=Onyl4YkYTLY&feature=related
Present Tense
Pearl Jam
Do you see the way that tree bends?
does it inspire?
leaning out to catch the sun's rays
a lesson to be applied
are you getting something out of this all encompassing trip?
you can spend your time alone, redigesting past regrets, oh
or you can come to terms and realize
you're the only one who can't forgive yourself, oh
makes much more sense to live in the present tense
have you ideas on how this life ends?
http://www.youtube.com/watch?v=ZXn9kNJK1ic
The Present Tense
Tom Yorke
This dance, this dance
Is a weapon, like a weapon
Of self defense
Against the present
http://www.lyrics-celebrities.anekatips.com/the-present-tense-lyrics-thom-yorke
Are you here?
Corinne Bailey Rae
Are you here?
Are you here?
Are you here, cause my heart recalls that
It all seems the same
It all feels the same
Pick me up
It's hard to recall the taste of summer
When everywhere around, the chill of winter
It gets so far away
Are you here?
And he comes to lay me down in a garden of tuberoses
When he comes around there's nothing more to imagine
Just tuberoses
http://www.youtube.com/watch?v=nLmlqbgan4g&NR=1
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Sensual ou Sexual?
Hoje, num almoço entre amigas, estávamos comentando sobre a clássica música Je t'aime moi non plus, cantada por Serge Gainsbourg e sua esposa na época, Jane Birkin. A música é sexual do começo ao fim: sussuros, gemidos, letra picante e direta. Não há nada insinuado. Não há dúvida nenhuma de que se trata de uma descrição do ato sexual. Quem não se lembra pode ouvir de novo no link abaixo.
http://www.youtube.com/watch?v=wgacX35zBck
Essa música me fez pensar sobre a diferença entre sensual e sexual. Como gosto de imaginar set lists, tenho rascunhadas na minha mente algumas músicas que considero bastante sensuais. Fui listá-las hoje e me surpreendi com a quantidade... bem mais que 20.
Porém, o curioso é que nenhuma se assemelha à classica citada acima. Algumas até mencionam palavras mais 'calientes' na letra. Outras têm um certo clima e até um clímax causado pelo rítmo, mas todas apenas insinuam algo, nenhuma é muito direta, óbvia. Talvez recaia aí a diferença entre o sensual e o sexual.
o sensual, o insinuado, não muito claro... a meia três quartos, o decote discreto, o vestido não muito curto. Na minha opinião, instigam mais os sentidos que o óbviamente sexual: o pornô, o vulgar, oferecido, sem mistérios, sem nada a ser des-coberto.
Com a música ocorre o mesmo. Je t'aime moi non plus nunca entraria na minha lista de músicas sensuais pois é muito óbvia pra isso. Está tudo lá, rasgado, às claras:
"Oh, sim eu te amo!
Eu mais ainda
Oh, meu amor...
Tu és a onda, eu a ilha nua
Tu vás
Tu vás e tu vens
Entrelaçado em meu dorso
Tu vás e tu vens"
Bem, decidi fazer uma lista de músicas sensuais, que leva em conta, meus próprios critérios, como clima e andamento da música, instrumentos, letra, voz, ocasião em que ouvi, sensações suscitadas e tudo isso junto misturado.
Convido a todos a fazerem sua própria lista com 10 ou 5 músicas. Não há primeiro ou vigésimo lugares. Listei à medida que fui lembrando. Que tal?
1.Extraordinary- Dani Siciliano
2.Ottis Redding- Try a little tenderness
3.Peel me a grape - Diana Krall
3.Closer- Corinne Bailey Rae
4. Rhymes of an hour - Mazzy Star
5. Josh Rouse - Flight Attendant
6. Charlenne-Bjork
7. All I need- Radiohead
8. Louco por você- Caetano Veloso
9. This is not a love song- versão Nouvelle Vague
10. Bullet proof soul- Sade
11-Crash into me- Dave Matthews Band
12.Cangote- Céu
13. Lullaby- The Cure
14. Indifference- Pearl Jam
15. Meu esquema- Mundo Livre S.A
16. Dance me to the end of love - versão Madeleine Peyroux
17. Sthero - Superhero
18.Tu piel- Jorge Drexler
19.Too wicky- Hooverphonic
20.Ben Harper - In the colors
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
BICHINHO
Fui mordida por um bichinho do desejo. Desejo de escrever. Esse bichinho não sabe que existe dia nem noite, primavera ou outono, madrugada ou meio-dia. Sou levada até a folha branca por uma força que não sei de onde vem. Parece que alguma coisa precisa ser derramada. Não de uma vez só. Mas com cuidado e aos poucos. Escrever, ler, apagar, ler, adicionar, aparar, cortar. A força vence o cansaço do dia, vence a fome, a melancolia, a preguiça, a lentidão e se impõe. Vejo-me obrigada a sentar e escrever. Se não o fizer, tenho a impressão de estar em dívida, de acumular algo.
Outro dia a máquina de lavar ficou vazando aqui em casa e coloquei um balde para dar conta do excedente. Não funcionou. A água jorrava até não poder mais. O barulho aumentava e o balde enchia, continuando a derramar água. Duas opções: tentar um balde maior ou fechar o buraco por onde a água saía. Tive a mesma sensação outro dia. Só que a única forma de fechar meu ‘pensador’ era escrevendo. O balde maior seriam as formas de protelar, como anotar idéias num bloco para desenvolvê-las depois. Ou seja, o balde maior não resolve o problema do excedente, apenas faz função de espera. Uma hora a água terá que ser derramada, o balde só faz acumulá-la.
Engraçada a dinâmica da anotação. Pego-me anotando uma idéia no trânsito, ou no meio da rua. Códigos ou iniciais que só eu entenderei depois. A idéia não pode sair voando por aí. Tento prendê-la no bloquinho. Para que eu pelo menos tenha a ilusão de que não a perdi. De que a recuperarei intacta mais tarde.
'minha música quer SÓ ser música'
Estava pensando outro dia sobre o ato de escrever e produzir (compor, cantar ou tocar) música.
Não sei responder se a tal da inspiração existe de fato. O que sei, é que às vezes sou tomada por
uma coisa que obriga a sentar e escrever, que eu chamei de bichinho. Imagino que deva acontecer o mesmo com quem canta ou compõe. É um desejo que nos atravessa e simplesmente se impõe.
Como a música de Adriana Calcanhoto que não quer ser moda, nem quer estar certa. Ela simplesmente quer Só Ser música.
Escrever: formal, informal ou academicamente. Em moleskines, cadernos ou papel de pão.
Vale tudo.
Talvez Lacan possa ajudar a explicar o bichinho, com o conceito de pulsão:
"A pulsão não tem dia nem noite, nem primavera nem outono, nem subida nem descida. Ela está ali sempre, não podemos fugir dela. A pulsão é uma força constante" (LACAN, O Seminário, livro XI).
Separei alguns trechos abaixo sobre a música e a palavra que se impõem ao sujeito, porque ‘habitam o coração do pensamento’ (Chico Buarque)
Quem gostar de escrever, ler, ouvir, tocar, cantar ou compor,se manifeste!
Minha Música
Adriana Calcanhotto
Minha música não quer
Ser útil
Não quer ser moda
Não quer estar certa...
Minha música não quer
ser bela
Não quer ser má
Minha música não quer
Nascer pronta...
Minha música não quer
Redimir mágoas
Nem dividir águas
Minha música não quer
Me pertencer
Não quer ser sucesso
Não quer ser reflexo
Não quer revelar nada...
Minha música quer estar
Além do gosto
Não quer ter rosto
Não quer ser cultura...
Minha música quer ser
De categoria nenhuma
Minha música quer
Só ser música
Minha música
Não quer pouco...
Nu com a minha música
Caetano Veloso
Deixo fluir tranqüilo
Naquilo tudo que não tem fim
Eu que existindo tudo comigo, depende só de mim
Vaca, manacá, nuvem, saudade
cana, café, capim
Coragem grande
é poder dizer sim
Fábrica do Poema
Adriana Calcanhotto
Sonho o poema de arquitetura ideal
Cuja própria nata de cimento
Encaixa palavra por palavra, tornei-me perito em extrair
Faíscas das britas e leite das pedras.
Acordo;
E o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.
Acordo;
O prédio, pedra e cal, esvoaça
Como um leve papel solto à mercê do vento e evola-se
Uma Palavra
Chico Buarque
Palavra dócil
Palavra d'agua pra qualquer moldura
Que se acomoda em balde, em verso, em mágoa
Qualquer feição de se manter palavra
Palavra minha
Matéria, minha criatura, palavra
Que me conduz
Mudo
E que me escreve desatento, palavra
Palavra boa
Não de fazer literatura, palavra
Mas de habitar
Fundo
O coração do pensamento, palavra
Minha Missão
João Nogueira e Paulo César Pinheiro
Do poder da criação
Sou continuação
E quero agradecer
Foi ouvida minha súplica
Mensageiro sou da música
O meu canto é uma missão
Tem força de oração
E eu cumpro o meu dever
Aos que vivem a chorar
Eu vivo pra cantar
E canto pra viver
Não sei responder se a tal da inspiração existe de fato. O que sei, é que às vezes sou tomada por
uma coisa que obriga a sentar e escrever, que eu chamei de bichinho. Imagino que deva acontecer o mesmo com quem canta ou compõe. É um desejo que nos atravessa e simplesmente se impõe.
Como a música de Adriana Calcanhoto que não quer ser moda, nem quer estar certa. Ela simplesmente quer Só Ser música.
Escrever: formal, informal ou academicamente. Em moleskines, cadernos ou papel de pão.
Vale tudo.
Talvez Lacan possa ajudar a explicar o bichinho, com o conceito de pulsão:
"A pulsão não tem dia nem noite, nem primavera nem outono, nem subida nem descida. Ela está ali sempre, não podemos fugir dela. A pulsão é uma força constante" (LACAN, O Seminário, livro XI).
Separei alguns trechos abaixo sobre a música e a palavra que se impõem ao sujeito, porque ‘habitam o coração do pensamento’ (Chico Buarque)
Quem gostar de escrever, ler, ouvir, tocar, cantar ou compor,se manifeste!
Minha Música
Adriana Calcanhotto
Minha música não quer
Ser útil
Não quer ser moda
Não quer estar certa...
Minha música não quer
ser bela
Não quer ser má
Minha música não quer
Nascer pronta...
Minha música não quer
Redimir mágoas
Nem dividir águas
Minha música não quer
Me pertencer
Não quer ser sucesso
Não quer ser reflexo
Não quer revelar nada...
Minha música quer estar
Além do gosto
Não quer ter rosto
Não quer ser cultura...
Minha música quer ser
De categoria nenhuma
Minha música quer
Só ser música
Minha música
Não quer pouco...
Nu com a minha música
Caetano Veloso
Deixo fluir tranqüilo
Naquilo tudo que não tem fim
Eu que existindo tudo comigo, depende só de mim
Vaca, manacá, nuvem, saudade
cana, café, capim
Coragem grande
é poder dizer sim
Fábrica do Poema
Adriana Calcanhotto
Sonho o poema de arquitetura ideal
Cuja própria nata de cimento
Encaixa palavra por palavra, tornei-me perito em extrair
Faíscas das britas e leite das pedras.
Acordo;
E o poema todo se esfarrapa, fiapo por fiapo.
Acordo;
O prédio, pedra e cal, esvoaça
Como um leve papel solto à mercê do vento e evola-se
Uma Palavra
Chico Buarque
Palavra dócil
Palavra d'agua pra qualquer moldura
Que se acomoda em balde, em verso, em mágoa
Qualquer feição de se manter palavra
Palavra minha
Matéria, minha criatura, palavra
Que me conduz
Mudo
E que me escreve desatento, palavra
Palavra boa
Não de fazer literatura, palavra
Mas de habitar
Fundo
O coração do pensamento, palavra
Minha Missão
João Nogueira e Paulo César Pinheiro
Do poder da criação
Sou continuação
E quero agradecer
Foi ouvida minha súplica
Mensageiro sou da música
O meu canto é uma missão
Tem força de oração
E eu cumpro o meu dever
Aos que vivem a chorar
Eu vivo pra cantar
E canto pra viver
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Make it easy
Sou uma pessoa simples - às vezes reflito
Um segundo depois de escrever estranhei a frase, pois a complexidade soa muito mais atraente...
O simples pode muitas vezes ser lido de forma quase pejorativa. É comum falarmos: “meus avós foram pessoas simples, não tiverem acesso à universidade”, ou “Fiz um almoço simples, não deve estar muito bom”...
Dois enganos nas duas frases. O primeiro é o tom pejorativo apoiado no adjetivo simples, quase como uma capa.
O segundo é a total incongruência. A sofisticação, o acesso ao letramento ou ao saber acadêmico, não tornam necessariamente ninguém mais complexo em seus valores, personalidade ou modo de conduzir-se na vida.
Pois bem; penso que o simples, trivial, fácil, natural, têm andado em desuso ultimamente .
Estava ouvindo uma música que dá título a este texto e parei pra pensar sobre isso.
(Ouçam sem preconceito, é uma balada folk)
http://www.youtube.com/watch?v=6zyo6NseLx4&feature=related
Temos uma enorme capacidade de planejar estratagemas, táticas, desculpas, fugas. O que poderia ser 10 vezes mais claro e divertido fica obscuro e complexo.
E quando nada disso é necessário? O que fazer quando nos deparamos com o simples, sem dificuldades?
Lá vem a angústia!
Difícil aceitar...e lá vamos nós, mexemos nossos pauzinhos pra emaranhar tudo de novo.
Sade canta emoldurando nosso dilema:
‘It couldn't be that easy
It had to be much harder’
E agora? Mas era só isso?!
http://www.youtube.com/watch?v=ZKVSZhumO84 (Não é à toa que ela tem 26 anos de carreira. Música Simples e linda)
O que buscamos pode estar em ali, ao alcance da mão. Ao nos vermos diante da expressão mais simples do nosso desejo, como a música de Wisnik,* percebemos que não estamos preparados para isso.
Complexidade e tempo
As vezes a falta de tempo pode ser uma aliada da complexidade.Um exemplo que me vem à mente são as redes interpessoais da internet (Orkut, facebook, etc).
Simples é ter saudade de alguém, pegar o telefone e marcar um encontro. Rir, trocar e jogar conversa fora. Pessoalmente. Rir ao vivo dos mal entendidos, das caretas, e não dos erros de digitação.
Andar pela rua e se deparar com algo que o outro vá gostar (o outro pode ser qualquer um; amigo, sobrinho, afilhado, a pessoa amada, a mãe, tio, professor, aluno, etc) e querer entregar pessoalmente para ver seu sorriso no canto do olho.
Às vezes tenho a impressão de que as relações em geral têm se tornado uma lista de nomes, números (quem tem mais amigos no Facebook??) e promessas com a consistência de uma nuvem levada pelo vento. É necessário menos contagem e mais contato.
E é muito simples fazê-lo. Se estivermos dispostos a isso.
Mais Simples
José Miguel Wisnik*
“A vida leva e traz
A vida faz e refaz
Será que quer achar
Sua expressão mais simples?”
* Wisnik é prof de literatura da USP e grande compositor brasileiro.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Quanta Bagagem levar?
A menos de 24 hs do vôo estou aqui às voltas com uma questão importante, o que é imprescindível levar na bagagem?
Tenho dificuldade em ser concisa, e geralmente gosto de devanear, não ir ‘straight to the point’ como dizem.
Vamos lá: itens imprescindíveis
• 500hs de música
• Fone para 2
• Bloquinho de anotação quadriculado (obrigada Claudinha)
• Câmera fotográfica
• Guias dos países
• Plásticos para guardar folhetos de museus e outras miudezas
• Livro de uma autora que eu queria ler há tempos: Miranda July (dirigiu o maravilhoso filme Eu, você e todos nós)
Desde o início da viagem andei preocupada com a questão das malas. Tentei resolvê-la buscando alguns modelos com amigos para que eu pudesse escolher depois...
Resultado: Eis o meu quarto cheio de bolsas e malas de tamanhos variados. Só consegui decidir há algumas horas.
O tamanho da mala restringe o conteúdo, disso sabemos. O que só hoje realizei é que a decisão de levar mais ou menos bagagem (para uma terra estrangeira, nesse caso) diz muito sobre nós.
Levando uma mala vazia, nossa possibilidade de enchê-la de lembranças, imagens, sons, cheiros, desejos e surpresas de um lugar distante, aumenta.
Carregar muita bagagem restringe o espaço que abrimos para o novo.
Como diz o poeta, 'a gente não sabe o lugar certo de colocar o desejo'. Dividí-lo em 2 malas? Despachar uma parte? Como escolher a bagagem de bordo, aquela da qual não abrimos mão?
Depois de muito ponderar, medir e pensar já decidi.
Levo uma mala cheia de desejos antigos e outra vazia, para encher de novos desejos de uma nova terra.
Pra não perder o hábito, uma musiquinha...
Bandas de lá
Mariana Aydar
Eu vou abandonar
Deixo o mundo velho por aqui
Não quero mais viver correndo assim
Sem tempo pra viver
Vi que é melhor
Calar que falar
Mas é cada uma que eu tenho que escutar
No momento eu não estou
Mas deixe o nome após o sinal
Que eu to pras bandas de lá
Fui viajar pra ver o Sol morrendo no mar
Que eu to pras bandas de lá
Fui viajar pra ver o Sol morrendo no mar
Não tenho pressa,
Nem me interessa quanto tempo vou levar
Não vou me permitir
Fingir que tô legal sem estar
Quanto à social
É tanta ambição
Pra conseguir o que se quer
Perder ou ganhar, isso não me vale
Prefiro mil vezes
Ir pras bandas de lá
Fui viajar pra ver o Sol morrendo no mar
terça-feira, 4 de maio de 2010
Sobre Espermatozóides e Woody Allen (leia até o fim)
O cinema tem quase tanta importância quanto a música na minha vida, e isso não é pouca coisa. Descobri Woody Allen em um filme de 1973, muito antes de eu pensar em gostar de cinema. O filme chama-se ‘Play it again Sam’. O título faz referência à Sam, pianista de Casablanca, que toca a melancólica música do casal protagonista; ‘As times goes by’.
Ao contrário de Casablanca, o filme de Allen é uma comédia. Conta as desventuras amorosas do personagem principal ainda interpretado pelo próprio. Desde o início dos anos 70, as características do protagonista, geralmente seu alter ego, continuam as mesmas. Seu anti-herói é rabugento, neurótico, patético, atabalhoado, ansioso, verborrágico, inseguro e não muito preocupado com as tendências da moda. À primeira vista, características nada atraentes aos olhos femininos.
O que ocorre no entanto, é que o protagonista de Allen por ser também inexplicavelmente sedutor, acaba atraindo mulheres em sua maioria inteligentes, interessantes, atraentes e igualmente neuróticas. É assim em ‘Play it again Sam’ de 1973, ‘Anything Else’ de 2003, e em ‘Melinda Melinda’ de 2004. Nos dois últimos, Woody Allen se faz presente no papel de protagonista na pele de outros atores.
Mais recentemente, Allen vem insistindo em 2 temas em alguns de seus filmes:
o acaso e as escolhas dos sujeitos. ‘Melinda’ (2004) e ‘Match Point’ (2005) são dois exemplos disso. Em ‘Cassandra’s Dream’ (2007) enfatiza o tema da responsabilidade e da culpa atrelada às escolhas feitas.
Seu último filme lançado no Brasil, ‘Whatever works’ (2009) é o exemplo menos metafórico e mais claro da junção desses 2 temas. Allen aponta que o acaso traça caminhos que o sujeito acaba seguindo. Como se fosse uma escolha forçada, ele se resigna e deixa-se levar ao ‘sabor’ dos acontecimentos. Aos poucos vai sabendo que gosto eles tem.
O sujeito até tenta se desvencilhar do acaso, mas uma conjunção de fatores se alinha diante dele formando uma estrada por onde ele segue contente. Os caminhos são improváveis, sem muita explicação racional, mas estão lá, e o sujeito cede. Uma bela jovem de 21 anos pede abrigo na casa de professor universitário bem mais velho e resmungão e o que soava improvável acontece. Poderia ter batido em outra porta, mas...
Mas por que não ceder ao acaso? O diretor, que define seu personagem principal como 'o único que consegue ver toda a cena', adverte os espectadores:
‘Não se iluda. Nem tudo acontece por conta da nossa ingenuidade humana. Uma parte maior do que você gostaria de admitir da sua existência é sorte, acaso. Cristo, você sabe qual a probabilidade do esperma do seu pai encontrar o único óvulo que te gerou?’
Allen ainda profetiza que pensar muito sobre o acaso, tentar prevê-lo, controlá-lo medí-lo, racionalizá-lo ou refutá-lo só nos trará uma saída: ‘um ataque de pânico’. Exageros neuróticos devidamente aparados e parece que não podemos tirar a razão dele. O ‘acaso nos protege enquanto andamos distraídos’, nos levanta quando nos vemos caídos ou nos dá uma rasteira quando já nem sonhávamos.
Frente às boas surpresas que o acaso (ou à sorte) nos reservam, resta-nos recalcular os passos, mudar o rumo previsto e aproveitar a caminhada. Mas como diz outra canção, é preciso saber ouví-lo.
Música & Acaso
http://www.youtube.com/watch?v=RJfr7GUW52w&feature=related
O velho e o Moço
Los Hermanos
Vou levando assim
Que o acaso é amigo
Do meu coração
Quando fala comigo,
Quando eu sei ouvir...
Epitáfio
Titãs
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...
The next time around
Little Joy
It's not enough to set the terms
If nothing ventured, nothing earned
It's how it's always been
E onde a sorte há de te levar
Saiba, o caminho é o fim, mais que chegar
Tudo por acaso
Lenine
Eu sei,
Tudo por acaso
Tudo por atraso
Mera distração
Eu sei
Por impaciência
Por obediência
Pura intuição
Qualquer dia, qualquer hora
Tempo e dimensão
O futuro foi agora, tudo é invenção
Ninguém vai saber de nada
E eu sei
Pelo sentimento,
Pelo envolvimento,
Pelo coração
Eu sei
Pela madrugada
Pela emboscada
Pela contramão
Qualquer dia, qualquer hora
Tempo e dimensão
O futuro foi agora, tudo é invenção
Ninguém vai saber de nada
Eu sei
Por qualquer poesia
Por qualquer magia
Por qualquer razão
Eu sei,
Tudo por acaso
Tudo por atraso
Mera diversão
Whatever works- Script
Final monologue
‘I happen to hate New year's celebrations.
Everybody desperate to have fun.
Trying to celebrate
in some pathetic little way.
Celebrate what? A step closer to the grave?
That's why I can't say enough times,
whatever love you can get and give,
whatever happiness
you can filch or provide,
every temporary measure of grace,
whatever works.
and don't kid yourself, it's by no means
all up to your own human ingenuity.
A bigger part of your existence is luck
than you'd like to admit.
Christ, you know the odds
of your father's one sperm
from the billions,
Finding the single egg that made you?
Don't think about it,
you'll have a panic attack’
quarta-feira, 28 de abril de 2010
O homem da gravata florida
Rubem Alves diz em um de seus textos(1) que a música tem uma certa magia. Às vezes, apesar de não desejarmos, nossa alma deixa-se levar, sendo possuída, seduzida por sua beleza. É claro que o conceito de beleza é subjetivo, portanto, na música isso não seria diferente. Ao ouvirmos uma música somos invadidos por sentimentos e sensações diversas, boas ou ruins. Angústia prenunciada por um nó na garganta, ojeriza, ternura, tristeza, excitação, alívio, acolhimento, são algumas das sensações que experiencio quase todos os dias.
Muitas vezes, não se trata da música toda, mas somente uma de parte dela; um andamento, um compasso, ou um refrão. Às vezes até um falsete.
A música é capaz de tocar o corpo, a memória, ou a alma. Arrepio na pele, vontade de chorar, pular ou abraçar a pessoa mais próxima. Em nenhum dos casos sabemos explicar seu efeito sobre nós.
Dito isso, explico o motivo da introdução. Algo estranho aconteceu com meu corpo quando fui apresentada à musica de Jorge Ben Jor.
O cenário e a companhia podem ter contribuído, admito. A experiência aconteceu há uns 5 anos se não me engano. A cidade de litoral, as férias e a bela vista pareciam combinar perfeitamente com a sensual “Menina mulher da pele preta”. Mas aquela música teve um outro efeito sobre mim: me deixou intrigada. Quis saber mais.
O primeiro disco de 1963 chama-se Samba esquema novo e é um tanto auto-explicativo. Em meio ao estilo contido, equilibrado e cool da bossa nova e o ‘rock rebelde-fake’ da Jovem Guarda, surge Jorge. Violão enfatizando a percussão, voz meio anasalada em tom malandro. Nada aristocrático ou contido como a bossa nova. Jorge Ben Jor foi chamado de primitivo.
Não é de se admirar: “Olha o balaio dela como é grande. Essa nega quando chega não deixa espaço pra ninguém. Também, com uma nega dessa, quem vai querer a nega de alguém?” Letra parecida podemos ouvir nas vozes das mais novas bandas de funk (sobre as 'popozudas'), mas há 50 anos era certamente um esquema novo.
Esquema de sambalanço. Instrumentos delicados de percussão, violão bem marcado, alguns sopros. A melodia se destaca da letra e muitas vezes a sobrepõe. A vontade é de sambar.
A novidade não está só nas letras simples, mas na batida, nos arranjos, na modulação da voz, brincadeiras com a métrica (“na-mo-mo-ra-ra-do da viúva”).
“Você é linda, é quase colorida” soa quase infantil se só lermos a letra. Mas basta ouvir a música e toda a preocupação com a sofisticação lírica cai ‘num balaio de flores’ e fica esquecida. A vontade é de saber para quem ele teria escrito essa música. Vontade de ser quase colorida também.
Ben Jor fala de sentimentos nada rebuscados: vontade de chorar, andar descalço no parque, ir ao circo, sorrir, girar na chuva, sambar, amar, olhar a lua e o sol.
Fala sobre cores e imagens: janelas de cristais, forro de veludo rosa, vestidos corais, roupas brancas, gravatas floridas.
Fala sobre preocupações corriqueiras: “Preciso de uma casa para minha velhice, porém preciso de dinheiro para fazer investimentos” sem se preocupar com nenhuma rima. Fala da espera ao lado do telefone (“fui atender e não era o meu amor”) e de alguém que não pôde esperar “Cinco minutos” apenas.
Fala sobre futebol: Sobre Zico (“O camisa 10 da Gávea”), o jogador João Batista de Sales (“Fio Maravilha”), o Flamengo e sobre os mandamentos para um bom zagueiro.
Fala sobre mulheres: de nomes simples (Rita, Gabriela, Aparecida,Teresa, Rosa, Maria Luisa, Sílvia, etc) ou inusitados: Dorothy, Domênica, Dandara, Jesualda, Zula, Maria Domingas, Magnólia.
Além de galanteá-las uma a uma, também fala sobre a “Menina mulher da pele preta” ou a “Mulher brasileira” e inaugura a cantada "Você não é Ave Maria, mas é cheia de graça”.
Fala sobre História: Taj Majal, Galileu, Zumbi, Xica da Silva, sobre a tábua de Esmeralda, os alquimistas e Hermes Trimegisto.
Fala em inglês: “I dance very well because I am Jorge Well”, “Prepare one more happy way for my love” sem a mínima preocupação com pronúncia. O que não causa nenhum dano à música.
Vale lembrar aqui novamente Rubem Alves: “As palavras são só um suporte. Elas existem para produzir o espaço vazio e silencioso de que a musica necessita para existir. Sabem disso os amantes: não são as palavras que contam. É a musica (das palavras)”
Termino com duas letras bem simples e que resumem um pouco sua obra. Jorge Bem Jor não tem a beleza e charme de Tom Jobim, mas sua música é certamente sua gravata florida.
Deixo links para os que quiserem tentar a experiência que tive há 5 anos. Lembrem-se que na alquimia, para se transformar chumbo em ouro é preciso estar com o corpo e mente abertos, se não, não vale nem a pena tentar. Ouçam com o espírito livre e boa dança.
http://letras.terra.com.br/jorge-ben-jor/86455/
http://letras.terra.com.br/jorge-ben-jor/86101
http://www.radio.uol.com.br/#/artista/jorge-ben/1291
1 Alves, Rubens. “Sobre a alma e a música” em Cenas da Vida, 1997. Campinas, SP: Papirus,
EU VOU TORCER
Jorge Bem Jor
Eu vou torcer pela paz
Pela alegria, pelo amor
Pelas moças bonitas
Eu vou torcer, eu vou
Pelo inverno, pelo sorriso
Pela primavera, pela namorada
Pelo verão, pelo céu azul
Pelo outono, pela dignidade
Pelo verde lindo desse mar
Pelas moças bonitas eu vou torcer, eu vou
Eu vou torcer pela paz
Pela alegria, pelo amor
Pelas moças bonitas
Eu vou torcer, eu vou
Pelas coisas úteis que se pode comprar
Com dez cruzeiros
Pelo bem estar, pela compreensão
Pela agricultura celeste, pelo coração
Pelo jardim da cidade, pela sugestão
Pelo Santo Tomás de Aquino
Pelo meu irmão
Pelo Gato Barbieri,
Pelo mengão
Pelo meu amigo que sofre do coração
Pelas moças bonitas
Eu vou torcer, eu vou
Eu vou torcer pela paz
Pela alegria, pelo amor
Pelas moças bonitas
Eu vou torcer, eu vou
Pelas dondocas bonitas
Eu vou torcer, eu vou.
O HOMEM DA GRAVATA FLORIDA
Jorge Ben Jor
Lá vem o homem da gravata florida
Meu deus do céu... que gravata mais linda
Que gravata sensacional
Olha os detalhes da gravata...
Que combinação de côres
Que perfeição tropical
Olha que rosa lindo
Azul turquesa se desfolhando
Sob os singelos cravos
E as margaridas, margaridas
De amores com jasmim
Isso não é só uma gravata
Essa gravata é o relatório
De harmonia de coisas belas
É um jardim suspenso
Dependurado no pescoço
De um homem simpático e feliz
Feliz, feliz porque... com aquela gravata
Qualquer homem feio, qualquer homem feio
Vira príncipe
Simpático, simpático, simpático
Porque... com aquela gravata
Êle é esperado e bem chegado
É adorado em qualquer lugar
Por onde ele passa nascem flores e amores
Com uma gravata florida singela
Como essa, linda de viver
Até eu, até eu, até eu, até eu, até eu,...
Muitas vezes, não se trata da música toda, mas somente uma de parte dela; um andamento, um compasso, ou um refrão. Às vezes até um falsete.
A música é capaz de tocar o corpo, a memória, ou a alma. Arrepio na pele, vontade de chorar, pular ou abraçar a pessoa mais próxima. Em nenhum dos casos sabemos explicar seu efeito sobre nós.
Dito isso, explico o motivo da introdução. Algo estranho aconteceu com meu corpo quando fui apresentada à musica de Jorge Ben Jor.
O cenário e a companhia podem ter contribuído, admito. A experiência aconteceu há uns 5 anos se não me engano. A cidade de litoral, as férias e a bela vista pareciam combinar perfeitamente com a sensual “Menina mulher da pele preta”. Mas aquela música teve um outro efeito sobre mim: me deixou intrigada. Quis saber mais.
O primeiro disco de 1963 chama-se Samba esquema novo e é um tanto auto-explicativo. Em meio ao estilo contido, equilibrado e cool da bossa nova e o ‘rock rebelde-fake’ da Jovem Guarda, surge Jorge. Violão enfatizando a percussão, voz meio anasalada em tom malandro. Nada aristocrático ou contido como a bossa nova. Jorge Ben Jor foi chamado de primitivo.
Não é de se admirar: “Olha o balaio dela como é grande. Essa nega quando chega não deixa espaço pra ninguém. Também, com uma nega dessa, quem vai querer a nega de alguém?” Letra parecida podemos ouvir nas vozes das mais novas bandas de funk (sobre as 'popozudas'), mas há 50 anos era certamente um esquema novo.
Esquema de sambalanço. Instrumentos delicados de percussão, violão bem marcado, alguns sopros. A melodia se destaca da letra e muitas vezes a sobrepõe. A vontade é de sambar.
A novidade não está só nas letras simples, mas na batida, nos arranjos, na modulação da voz, brincadeiras com a métrica (“na-mo-mo-ra-ra-do da viúva”).
“Você é linda, é quase colorida” soa quase infantil se só lermos a letra. Mas basta ouvir a música e toda a preocupação com a sofisticação lírica cai ‘num balaio de flores’ e fica esquecida. A vontade é de saber para quem ele teria escrito essa música. Vontade de ser quase colorida também.
Ben Jor fala de sentimentos nada rebuscados: vontade de chorar, andar descalço no parque, ir ao circo, sorrir, girar na chuva, sambar, amar, olhar a lua e o sol.
Fala sobre cores e imagens: janelas de cristais, forro de veludo rosa, vestidos corais, roupas brancas, gravatas floridas.
Fala sobre preocupações corriqueiras: “Preciso de uma casa para minha velhice, porém preciso de dinheiro para fazer investimentos” sem se preocupar com nenhuma rima. Fala da espera ao lado do telefone (“fui atender e não era o meu amor”) e de alguém que não pôde esperar “Cinco minutos” apenas.
Fala sobre futebol: Sobre Zico (“O camisa 10 da Gávea”), o jogador João Batista de Sales (“Fio Maravilha”), o Flamengo e sobre os mandamentos para um bom zagueiro.
Fala sobre mulheres: de nomes simples (Rita, Gabriela, Aparecida,Teresa, Rosa, Maria Luisa, Sílvia, etc) ou inusitados: Dorothy, Domênica, Dandara, Jesualda, Zula, Maria Domingas, Magnólia.
Além de galanteá-las uma a uma, também fala sobre a “Menina mulher da pele preta” ou a “Mulher brasileira” e inaugura a cantada "Você não é Ave Maria, mas é cheia de graça”.
Fala sobre História: Taj Majal, Galileu, Zumbi, Xica da Silva, sobre a tábua de Esmeralda, os alquimistas e Hermes Trimegisto.
Fala em inglês: “I dance very well because I am Jorge Well”, “Prepare one more happy way for my love” sem a mínima preocupação com pronúncia. O que não causa nenhum dano à música.
Vale lembrar aqui novamente Rubem Alves: “As palavras são só um suporte. Elas existem para produzir o espaço vazio e silencioso de que a musica necessita para existir. Sabem disso os amantes: não são as palavras que contam. É a musica (das palavras)”
Termino com duas letras bem simples e que resumem um pouco sua obra. Jorge Bem Jor não tem a beleza e charme de Tom Jobim, mas sua música é certamente sua gravata florida.
Deixo links para os que quiserem tentar a experiência que tive há 5 anos. Lembrem-se que na alquimia, para se transformar chumbo em ouro é preciso estar com o corpo e mente abertos, se não, não vale nem a pena tentar. Ouçam com o espírito livre e boa dança.
http://letras.terra.com.br/jorge-ben-jor/86455/
http://letras.terra.com.br/jorge-ben-jor/86101
http://www.radio.uol.com.br/#/artista/jorge-ben/1291
1 Alves, Rubens. “Sobre a alma e a música” em Cenas da Vida, 1997. Campinas, SP: Papirus,
EU VOU TORCER
Jorge Bem Jor
Eu vou torcer pela paz
Pela alegria, pelo amor
Pelas moças bonitas
Eu vou torcer, eu vou
Pelo inverno, pelo sorriso
Pela primavera, pela namorada
Pelo verão, pelo céu azul
Pelo outono, pela dignidade
Pelo verde lindo desse mar
Pelas moças bonitas eu vou torcer, eu vou
Eu vou torcer pela paz
Pela alegria, pelo amor
Pelas moças bonitas
Eu vou torcer, eu vou
Pelas coisas úteis que se pode comprar
Com dez cruzeiros
Pelo bem estar, pela compreensão
Pela agricultura celeste, pelo coração
Pelo jardim da cidade, pela sugestão
Pelo Santo Tomás de Aquino
Pelo meu irmão
Pelo Gato Barbieri,
Pelo mengão
Pelo meu amigo que sofre do coração
Pelas moças bonitas
Eu vou torcer, eu vou
Eu vou torcer pela paz
Pela alegria, pelo amor
Pelas moças bonitas
Eu vou torcer, eu vou
Pelas dondocas bonitas
Eu vou torcer, eu vou.
O HOMEM DA GRAVATA FLORIDA
Jorge Ben Jor
Lá vem o homem da gravata florida
Meu deus do céu... que gravata mais linda
Que gravata sensacional
Olha os detalhes da gravata...
Que combinação de côres
Que perfeição tropical
Olha que rosa lindo
Azul turquesa se desfolhando
Sob os singelos cravos
E as margaridas, margaridas
De amores com jasmim
Isso não é só uma gravata
Essa gravata é o relatório
De harmonia de coisas belas
É um jardim suspenso
Dependurado no pescoço
De um homem simpático e feliz
Feliz, feliz porque... com aquela gravata
Qualquer homem feio, qualquer homem feio
Vira príncipe
Simpático, simpático, simpático
Porque... com aquela gravata
Êle é esperado e bem chegado
É adorado em qualquer lugar
Por onde ele passa nascem flores e amores
Com uma gravata florida singela
Como essa, linda de viver
Até eu, até eu, até eu, até eu, até eu,...
domingo, 28 de fevereiro de 2010
Malandragem
Vou fazer diferente desta vez. Trarei as músicas ao longo do texto e não só no final.
Sempre pensei no que a palavra malandragem poderia significar; esperteza, malemolência, jogo de cintura, desonestidade. Através das músicas, fui construindo algumas respostas para essa pergunta. Com tantas diferentes definições de malandro, começo a acreditar que há vários malandros, dependendo da situação.
Fala-se muito sobre o tipo clássico, o que transgride a honestidade. Aquele malandro do Chico Buarque, que ‘anda de viés’, ‘bebe um gole de cachaça, acha graça e dá no pé’, deixando a conta para alguém pagar, claro.
Jorge Ben Jor tem uma frase com a qual eu simpatizo: ‘se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem’. A frase é uma espiral, pois é engraçado pensar em como o malandro poderia ser honesto só pelo prazer de transgredir.
É verdade, há o malandro que transgride. Se a regra é pagar, ele sai sem pagar. Se é assumir compromisso, ‘ele não se amarra em uma só mulher’.Se é trabalhar, ele quer receber a grana ‘sem suar’. Se é esperar, ele 'fura fila'. Ai de quem o vir por aí ‘chacoalhando num trem da central’?! As vezes, ele 'até trabalha, tem mulher e filhos' mas ninguém pode saber. O importante é preservar a imagem... imagina se o confundirem com um otário! Esse malandro deve sempre levar vantagem perante os outros, não pode estar por baixo, diminuído. Uma mentirinha é sempre necessária.
Às vezes o malandro mente, escamoteia e transgride por achar que as
leis a que se submete não lhe trariam fama, admiração e credibilidade. ‘Vou apelar apara a malandragem para proteger a minha imagem’, afinal de contas o malandro é tido em boa conta com as mulheres e os amigos. ‘Malandro é aquele que sabe das coisas’. É preciso convencer as pessoas disso. Marketing pessoal é tudo;o bom malandro sabe disso.
Mas há também outra espécie de malandro, ‘o que sabe o que quer', parecendo andar lado a lado com seu desejo.
Há ainda o malandro consciente, o que ajuda, ‘dá segurança total’ já conquistou respeito e ‘não fala mentiras’.
Cazuza fala do desejo de se ter um pouco de malandragem, pois na pureza não se conheceria a verdade. E o malandro, conhece a verdade?
Essa música ensina então que é preciso malandragem para lidar com os sobresaltos da vida, para dar uma rasteira nas dificuldades. Entendo que ‘conhecer a verdade’ seria então uma forma de ir se equilibrando na corda bamba do que nos faz sofrer.
O malandro pode ou não burlar valores éticos e a lei para isso, ou pode usar de simpatia e jinga, sem perder a ética. A malemolência nesse caso é maior ainda. Teríamos um malandro honesto (não vejo contradição), e com um rebolado ímpar para sair de situações de sufoco. Em muitos casos, inclusive, a jinga do malandro pode estar na própria honestidade. Falar a verdade pode ser o blefe final.
Tentem lembrar do personagem de Javier Bardem no filme de Woody Allen, ‘Vichy Cristina, Bracelona’. Malandramente sedutor e honesto. Até onde poderia ser.
Moreira e Bezerra, ambos da Silva, concordam que o oposto de malandro é o otário, o mané. Enquanto o malandro resolve seus problemas na base do jeitinho, o otário encontra a forma mais difícil para resolvê-lo, e muitas vezes não resolve nada.
A partir de tantas referências musicais, concluo que o malandro é uma figura mítica materializada com mais ou menos frequência na vida de cada um.
Leia-se homens e mulheres. Portanto... ninguém nasce malandro. Lapida-se a malandragem.
(PS: Conferir no texto as referências em itálico às frases em negrito abaixo)
Caramba... Galileu da galiléia
Jorge Ben Jor
'Se malandro soubesse como é bom ser honesto
Seria honesto só por malandragem’
Malandragem
Cazuza/Frejat
‘Eu só peço a Deus um pouco de malandragem
Pois sou criança e não conheço a verdade’
Malandro é Malandro e Mané é Mané
Bezerra da Silva / Neguinho da Beijaflor
‘E malandro é malandro
Mané é mané
Malandro é o cara
Que sabe das coisas
Malandro é aquele
Que sabe o que querMalandro é o cara
Que tá com dinheiro
E não se compara
Com um Zé Mané
Malandro de fato
É um cara maneiro
Que não se amarra
Em uma só mulher...’
Malandro Consciente
Bezerra da Silva
‘É que você é o malandro consciente
Você ajuda a nossa comunidadeVocê dá leite para as crianças
Remédio para quem está doente
E comida para os mais carentes
Ainda dá uma segurança totalAquilo que a favela nunca teve
Que é assistência social’
Malandro Rife
Bezerra da Silva
‘Malandro é malandro mesmo
Em qualquer bocada que ele chega
Ele é muito bem chegado
E quando tá caído não reclama
Sofre calado e não chora
Não bota culpa em ninguém
E nem joga conversa fora’
Malandro Não Vacila
Bezerra da Silva
‘Já falei pra você, que malandro não vacila
Já falei pra você, que malandro não vacila
Malandro não cai, nem escorrega
Malandro não dorme nem cochila
Malandro não carrega embrulho
E tambem não entra em fila’
Malandro Quando Morre
Chico Buarque
‘Malandro quando morre
Vira samba’
O Malandro
Chico Buarque
‘O malandro/Na dureza
Senta à mesa/Do café
Bebe um gole/De cachaça
Acha graça/E dá no pé’
Homenagem Ao Malandro
Chico Buarque
‘Mas o malandro para valer, ( não espalha)
aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal.
Dizem as más línguas que ele até trabalha,
Mora lá longe chacoalha, no trem da central’
A Volta do Malandro
Chico Buarque
‘Eis o malandro na praça outra vez
Caminhando na ponta dos pés
Como quem pisa nos corações
O malandro anda assim de viésDeixa balançar a maré
E a poeira assentar no chão’
Malandro Em SinucaMoreira da Silva
‘Estou cansado desta vida de otário, afinal o meu salário já não chega para mim
Fui à sinuca pra de alguém tomar a granolina, sem suar, nessa vida só assim
Um certo tipo alinhado e mui granfino, tinha até cara de menino uma partida apreciava
Aproximei-me resoluto e com coragem, e na minha malandragem perguntei se ele jogava...’
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Dancing with myself
Gosto de dançar, desde que me entendo por gente. Quando tinha 5 anos, colecionava os discos de vinil da Rita Lee. Lembro dessa cena como se fosse hoje. Eu era fã dela. Colocava o vinil (lembro de um em que ela e Roberto de Carvalho saíam do mar e de outro,com a capa meio rosa e preta) e ficava na sala dançando sozinha. Sem muita coordenação motora, e ainda por fora dos passinhos da moda, pulava, me sacudia e sorria, ao som de “baila comigo, como se baila na tribo”.
Mas não era só Rita Lee que freqüentava minha discoteca particular. Mais tarde ouvia Elis Regina do meu pai e achava interessante, embora ainda não soubesse dançar samba.
Pré-adolescência e época de lambada. Lá ia eu novamente com o disco para a vitrola e ensaiava passinhos a lá Beto Barbosa ou Kaoma.
O engraçado é que me lembro muito bem desses momentos. Na adolescência os passos foram ficando mais rebuscados. Colocava minha fitas-cassete e criava coreografias de jazz para músicas de Luscious Jackson, The Cure e Bjork, influenciada por minhas aulas de dança.
Comecei com o jazz. Numa turma de meninas bem mais experientes, me senti um pouco desajeitada, mas com o tempo consegui me adequar. Mas ainda não me dava nenhum arrepio.
Sob efeito dos vários musicais que assistia por semana, aos 10 anos (já tarde) tomei coragem e decidi entrar para o ballet, no qual permaneci por mais de 10 anos, entre idas e vindas causadas pela revolta com a rigidez e pressão intrínseca à essa dança. Me rebelava com a professora e saía, mas não durava mais de um mês. Odeio cobrança excessiva, e ballet é sinônimo disso. Por outro lado é também sinônimo de disciplina, perseverança, boa música, e da dupla preciosa: delicadeza e força. Me ensinou bastante.
Idade adulta, corpo mudado, revolta amansada. Resolvi tentar algo mais agressivo e ao mesmo tempo mais decidido; a dança contemporânea. Novamente fui (por falta de horário) para uma turma de dançarinas mais experientes que eu. Coreógrafa conhecida no meio.
E eu? Cada aula era uma vitória. A coreografia mais fácil da aula parecia introdução de peça da Débora Colker. Em algumas aulas conseguia me divertir. Nas outras, estava mais preocupada em acertar a coreografia. Só sei que no fim deu certo. Nos apresentamos com a academia, e consegui acertar a coreografia (!). O vídeo não me deixa mentir, mas não sei mais o que fiz com ele. Pena.
Quase esqueci, fiz algumas aulas de dança moderna também, bem diferente da contemporânea. Mas não me identifiquei muito.
Há 2 anos decidi escutar uma curiosidade que sempre tive; fazer dança de salão. Por motivos óbvios, escolhi a dança de acordo com o ritmo que mais gosto de dançar, o samba. Não, não escuto discos de bolero em casa, por isso optei por estudar só gafieira.
Quando alguém me pergunta sobre a dança de salão, por mais que eu explique, sempre acho que fica faltando algo. Me surpreendi muito com o que o samba de gafieira me ensinou. Tentarei listar aqui algo do que chamei de estatuto implícito da gafieira.
Antes, algumas letras pra quem gosta de dançar sozinho, como eu:
"Dancing with myself
If I had the chance
I'd ask the world to dance”
Billy Idol
“Sambando na lama de sapato branco, glorioso
Um grande artista tem que dar o tom
Quase rodando, caindo de boca
A voz é rouca mas o mote é bom
Sambando na lama e causando frisson”
Chico Buarque
"Danço porque danço e não descanso até o sol raiar
Dançando certo
Dançando louco
Dançando contra a corrente
Dançando leve
Dançando brusco
Dançando assim simplesmente
Dançando lento
Dançando justo
Dançando rapidamente
Dançando solo(...)"
Adriana Calcanhoto
“Olha que o galo cantou
O sol vai raiar
E você não parou de sambar”
Jorge Ben Jor
“Que menina é aquela que entrou na roda agora?
Ela tem um remelexo
Que valha-me Deus,Nossa senhora”
Caetano Veloso
O estatuto implícito da gafiera- 11 lições
1. (Verdadeiros) dançarinos de dança de salão freqüentam o baile com um objetivo primordial: experienciar uma boa dança.
2. Tratam-se por dama e cavalheiro. O cavalheirismo é mister neste contexto. O cavalheiro deve convidar a dama para dançar estendendo-lhe a mão. Esta deve aceitar a dança segurando-a e dirigindo-se até o local escolhido no salão.
3. Aceita-se a dança não pela beleza ou porte atlético do cavalheiro, e sim por educação ou por sua habilidade na dança. Na minha opinião, a dama pode recusar a dança desde que seja simpática e não constranja o cavalheiro.
4. A dama deve ser conduzida. Deve se deixar conduzir. Aceitar a mão firme em sua cintura, em sua mão. Não acelerar. Não retardar o passo. O cavalheiro pensa no passo a ser feito e em como conduzi-la para isso. Se entender o que o corpo dele quis dizer, ela o segue. Se a dança é bonita de se ver, fluida, há entrega da dama e firmeza do cavalheiro.
5. Nenhuma palavra é trocada. “Gire para lá”, ou “agora eu vou te jogar”. Isso é proibido e desnecessário. A condução é no corpo. Entendimento de pernas, passos, mãos, respiração, pele...
Conferir o texto na íntegra no site
Músicas pra quem gosta de dançar junto, como eu:
“Baila Comigo!
Como se baila na tribo
Baila Comigo!
Lá no meu esconderijo”
Rita Lee
“When we dance, angels will run and hide their wings”
Sting
“I'd rather dance with you than talk with you
So why don't we just move into the other room
There's space for us to shake, and hey, I like this tune
I'd rather dance, I'd rather dance than talk with you”
The Kings of Convenience
“E vem lá,
Vem lá
Você pra me tirar
Pra dançar
Pra dançar
Madrugada lunar”
Letuce
“We're going down,
And you can see it too.
We're going down,
And you know that we're doomed.
My dear,
We're slow dancing in a burning room”
John Mayer
Alguém tem mais contribuições de músicas?
segunda-feira, 4 de janeiro de 2010
Ceticismo Caetaneano
Ceticismo Caetaneano
Ano passado Caetano lançou seu último disco Zii e Zie com guitarras distorcidas e arranjos modernos. Nada disso me surpreendeu. Caetano consegue soar inovador e vanguarda tanto em Transa, de 1972 (que eu considero um de seus melhores discos) quanto neste, lançado 30 anos depois.
O que me surpreendeu de fato foi uma de suas letras, ‘Diferentemente’ em que ele afirma não acreditar em Deus.
A questão aqui não é filosófica ou teológica. A liberdade de acreditar em quem quisermos vale para todos.
Só proponho um retorno histórico ao próprio, que já se referiu a Deus com mais apreço em suas letras, ou ao menos fez questão de citá-lo.
Ceticismo pós ano 2000?
#Notem que em 1975 há referências em 2 músicas.
Maria Bethânia
Álbum: Caetano Veloso- 1971
Maria Bethânia, please send me a letter
Please send me a letter I wish to know things are getting better
She has given her soul to the devil but the devil gave his soul to God
Minha mulher
Álbum: Jóia-1975
Tudo é mesmo muito grande assim
Porque Deus quer
Pelos olhos
Álbum: Jóia-1975
O Deus que mora na proximidade do haver avencas
Esse Deus das avencas é a luz
Saindo pelos olhos
De minha amiguinha
O Deus que mora na proximidade do haver avencas
Esse Deus dos fetos
Das plantas pequenas é a luz
Saindo pelos olhos
De minha amiguinha linda
De minha amiguinha
Deus e o diabo
Álbum: Muitos carnavais -1977
Você tenha ou não tenha medo
Nego, nega, o carnaval chegou
Mais cedo ou mais tarde acabo
De cabo a rabo com essa transação de pavor
Que Deus abençoou
Nu com a minha música
Álbum: Outras palavras -1981
Nu com a minha música, afora isso somente amor
Vislumbro certas coisas de onde estou
Nu com meu violão, madrugada
Nesse quarto de hotel
Logo mais sai o ônibus pela estrada, embaixo do céu
O estado de São Paulo é bonito
Penso em você e eu
Cheio dessa esperança que Deus deu
Diferentemente
Álbum: Zii e Zie -2009
E, no entanto,
diferentemente de Osama e Condoleezza,
eu não acredito em Deus.
Assinar:
Postagens (Atom)