sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Dancing with myself


Gosto de dançar, desde que me entendo por gente. Quando tinha 5 anos, colecionava os discos de vinil da Rita Lee. Lembro dessa cena como se fosse hoje. Eu era fã dela. Colocava o vinil (lembro de um em que ela e Roberto de Carvalho saíam do mar e de outro,com a capa meio rosa e preta) e ficava na sala dançando sozinha. Sem muita coordenação motora, e ainda por fora dos passinhos da moda, pulava, me sacudia e sorria, ao som de “baila comigo, como se baila na tribo”.

Mas não era só Rita Lee que freqüentava minha discoteca particular. Mais tarde ouvia Elis Regina do meu pai e achava interessante, embora ainda não soubesse dançar samba.
Pré-adolescência e época de lambada. Lá ia eu novamente com o disco para a vitrola e ensaiava passinhos a lá Beto Barbosa ou Kaoma.

O engraçado é que me lembro muito bem desses momentos. Na adolescência os passos foram ficando mais rebuscados. Colocava minha fitas-cassete e criava coreografias de jazz para músicas de Luscious Jackson, The Cure e Bjork, influenciada por minhas aulas de dança.

Comecei com o jazz. Numa turma de meninas bem mais experientes, me senti um pouco desajeitada, mas com o tempo consegui me adequar. Mas ainda não me dava nenhum arrepio.

Sob efeito dos vários musicais que assistia por semana, aos 10 anos (já tarde) tomei coragem e decidi entrar para o ballet, no qual permaneci por mais de 10 anos, entre idas e vindas causadas pela revolta com a rigidez e pressão intrínseca à essa dança. Me rebelava com a professora e saía, mas não durava mais de um mês. Odeio cobrança excessiva, e ballet é sinônimo disso. Por outro lado é também sinônimo de disciplina, perseverança, boa música, e da dupla preciosa: delicadeza e força. Me ensinou bastante.

Idade adulta, corpo mudado, revolta amansada. Resolvi tentar algo mais agressivo e ao mesmo tempo mais decidido; a dança contemporânea. Novamente fui (por falta de horário) para uma turma de dançarinas mais experientes que eu. Coreógrafa conhecida no meio.

E eu? Cada aula era uma vitória. A coreografia mais fácil da aula parecia introdução de peça da Débora Colker. Em algumas aulas conseguia me divertir. Nas outras, estava mais preocupada em acertar a coreografia. Só sei que no fim deu certo. Nos apresentamos com a academia, e consegui acertar a coreografia (!). O vídeo não me deixa mentir, mas não sei mais o que fiz com ele. Pena.
Quase esqueci, fiz algumas aulas de dança moderna também, bem diferente da contemporânea. Mas não me identifiquei muito.

Há 2 anos decidi escutar uma curiosidade que sempre tive; fazer dança de salão. Por motivos óbvios, escolhi a dança de acordo com o ritmo que mais gosto de dançar, o samba. Não, não escuto discos de bolero em casa, por isso optei por estudar só gafieira.

Quando alguém me pergunta sobre a dança de salão, por mais que eu explique, sempre acho que fica faltando algo. Me surpreendi muito com o que o samba de gafieira me ensinou. Tentarei listar aqui algo do que chamei de estatuto implícito da gafieira.

Antes, algumas letras pra quem gosta de dançar sozinho, como eu:


"Dancing with myself
If I had the chance
I'd ask the world to dance”
Billy Idol




“Sambando na lama de sapato branco, glorioso
Um grande artista tem que dar o tom
Quase rodando, caindo de boca
A voz é rouca mas o mote é bom
Sambando na lama e causando frisson”
Chico Buarque




"Danço porque danço e não descanso até o sol raiar
Dançando certo
Dançando louco
Dançando contra a corrente
Dançando leve
Dançando brusco
Dançando assim simplesmente
Dançando lento
Dançando justo
Dançando rapidamente
Dançando solo(...)"
Adriana Calcanhoto


“Olha que o galo cantou
O sol vai raiar
E você não parou de sambar”
Jorge Ben Jor


“Que menina é aquela que entrou na roda agora?
Ela tem um remelexo
Que valha-me Deus,Nossa senhora”
Caetano Veloso

3 comentários:

  1. Textos que exprimem experiências humanas são sempre emocionantes na leitura e o seu não poderia deixar de ser. Você mostra que uma parte da sua vida foi dedicada a dança, dedicada a uma paixão certas vezes interrompidas, acredito eu, por circunstâncias de estudo e formação acadêmica, mas nunca foi esquecida. Portanto, dedique mais tempo ao que gosta e realmente lhe deixa feliz. Parabéns pelo seu trabalho.
    Um Grande Beijo!

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  2. Ei, Carol, só para acrescentar: bolero (dança) não precisa ser dançado apenas com bolero (música). O "Baila Comigo", da Rita Lee, e várias da Elis servem como som para um ótimo bolero. Além, é claro, de várias músicas lentas recem lançadas.

    Boas danças.

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  3. Você tem razão Ulisses,

    mas apesar de achar bonito quando dançado (por outros), não sinto muito prazer em dançar bolero, mesmo que a música me apeteça!
    O que captura nosso desejo não tem muita explicação , não é? Prefiro dançar samba.
    valeu pela correção.
    Carol

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