quinta-feira, 17 de dezembro de 2009
Cansei de Ser Séria - Vou virar carioca
Existe uma banda de rock-eletrônico que possui o 2º melhor nome de banda na minha opinião: Cansei de Ser Sexy, formada por 4 mulheres e um homem.Tanta gente por aí se esforçando pra ser O Último Biscoito do Pacote e eles simplesmente cansaram!
Hoje vim andando pela rua ápós ter vivenciado uma situação éticamente desagradável e pensei, também cansei. Só que minha banda vai se chamar Cansei de Ser Séria. Morar no Rio é um prazer e um fardo ao mesmo tempo, e eu já não me identifico ao estatuto implícito da cidade faz tempo.
Depois desse episódio de hoje ressuscitei um texto que escrevi. Publico abaixo.
Aproveitando o mote, selecionei algumas músicas cujo tema é o carioca ou as carioquices.
Só a música pra nos aliviar ...
Samba do carioca
Vinícius de Moraes e Carlos Lyra
Vamos, carioca
Sai do teu sono devagar
O dia já vem vindo aí
O sol já vai raiar São Jorge, teu padrinho
Te dê cana pra tomar
Xangô, teu pai, te dê Muitas mulheres para amar
Pé
Silvia Machete
Se eu disser que tô indo embora
Não me deixe ir
Sabote minha partida
Pois eu sei que perdi um pouquinho da minha carioquice
E isso é muito triste
Pois se você disser pra eu te ligar eu vou
Se você marcar encontro eu já tô lá
Se você disser que gosta de mim eu vou acreditar com muito amor
Cariocas
Adriana Calcanhoto
Cariocas são bonitos
Cariocas são bacanas
Cariocas são sacanas
Cariocas são dourados
Cariocas são modernos
Cariocas são espertos
Ela é carioca
Tom Jobim e Vinícius de Moraes
Ela é carioca
Basta o jeitinho dela andar
Nem ninguém tem carinho assim para dar
Eu vejo na luz dos seus olhos
As noites do Rio ao luar
Carioca
Chico Buarque
Cidade maravilhosa
És minha
O poente na espinha das tuas montanhas
Quase arromba a retina
De quem vê
De noite, meninas
Peitinhos de pitomba
Vendendo por Copacabana
As suas bugigangas
The CariocaCaetano veloso
Say, have you seen the carioca?
It's not a foxtrot or a polka
It has a little bit of new rhythm
A blue rhythm that sighs
Garota sangue bomFernanda Abreu
No compasso do escândalo dançante
Meio samba meio funk
Vem dançando no açúcar
Da presença feminina carioca
Suburbana, carioca Zona Sul
Corpo que é alma
Assim sublime irresistível inspiração
De cidade maravilha cortesã
Sintetizada pelas ondas de um corpo feminino
Que é Prestígio de calibre sensual
Olha o jeitinho dela falar
Olha o jeitinho dela dançar
Olha o jeitinho dela olhar
Olha o jeitinho dela andar
Olha o jeitinho dela paquerar
Garota carioca
Suingue sangue bom
Voltando pra Pasárgada #
Não se trata de uma história que ouvi. A experiência foi vivida na carne. Quando cheguei em casa hoje, depois de pensar muito na vida e nas pessoas, resolvi: ‘vou procurar meu registro, minha certidão de nascimento’. A resposta eu na verdade já tinha, mas a gente sempre precisa de uma confirmação, dos pais, da lei, ou do escriturário que seja. E confesso que não fiquei surpresa quando vi lá escrito: local de nascimento: Pasárgada.
Sabe quando você desconfia de algo, mas não tem certeza de fato? Pois então, sempre desconfiei de que não era carioca. Como se fosse uma filha adotada que não sabe de toda sua estória, mas sonha com isso vez ou outra. Não sabe sabendo ou sabe não sabendo. E depois de 28 anos me descobri assim, como uma ‘filha-adotada-recém-descoberta’. Mas você deve estar se perguntando quando de fato tive a certeza e pulei para a cena de vasculhar a certidão. Fui só ouvindo os sinais, pois alguns indícios já eram gritantes.
1. Ir à praia pra mim é quase sempre uma aventura, prefiro as mais desertas, de preferência fora do Rio. Chego quando o sol está se pondo e uso o maior fator de proteção solar apesar da grande quantidade de melanina que carrego.
2.Perco-me facilmente pelas ruas.
3.Aprendi recentemente que quando um menino de rua te pede dinheiro para comprar leite em pó para o irmão, ele não quer realmente o leite, ficando decepcionado quando o ganha e insistindo no dinheiro.
4.Tenho a mania de cumprir com a minha palavra. Pode escrever o que eu falo, eu assino embaixo.
Não sou carioca e confesso ter orgulho disso. Não quero ser mal entendida, longe de mim! Apenas carrego comigo um regionalismo do qual não consigo me livrar, apesar de ter recém descoberto minha cidade.
Em Pasárgada a existência é uma aventura e sou amiga do rei, no qual sei que posso confiar se precisar. Lá ando de bicicleta por esporte, sem comparações com a mais nova capa da Playboy.
Se estiver cansada, deito na beira do rio e ouço as histórias da mãe-d’água, sem me preocupar com o tempo desperdiçado ali. Se não consigo o que esperava, não há malandragem, porém, o diálogo honesto é sempre bem-vindo. Paciência e honestidade são leis.
Não sou carioca e por mais que viva no Rio, ainda me surpreendendo com eles. Os cariocas são fluidos. Leveza, fluidez e descontração podem combinar com a vontade de levar a frente uma aposta, mas para o carioca, isso leva a um dispêndio muito grande de energia, que ele poderia estar gastando na praia, na academia ou na boite.
Apostar num desejo significa bancar uma escolha, assumir o risco de perder. Mas se o carioca não se implica, o que perderia? Perder o que nunca teve?
Assim é mais leve. A leveza é a nova onda do momento, o carioca sabe. Poupar as pessoas de ouvirem algumas verdades pode ser muito mais conveniente, tão leve quanto uma borboleta. O carioca parece ter aberto mão da densidade e da seriedade para viver na cidade maravilhosa. Afinal, morar no berço da sétima maravilha do mundo também tem um preço. É...até o carioca faz algumas escolhas de vez em quando.
Vou me juntar aos meus.
#O Poema original Vou me embora pra Pasárgada, de Manuel Bandeira foi musicado por Gilberto Gil em 1986.
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